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31 May 2024

A Carta que eu gostava de ter lido

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A Carta que eu gostava de ter lido

Carta à mãe que está grávida e planeia amamentar, à mãe que amamenta e às mães que, como eu, não tiveram uma boa experiência de amamentação, e por isso tentam transformar essa aprendizagem em suporte e ajuda útil a outras mães.

A falta de apoio dos profissionais de saúde que constituem as equipas hospitalares de primeiro contato com a mãe e o bebé representa uma importante percentagem da falta de sucesso da amamentação. A falta empatia, compaixão, dedicação e infelizmente formação dificultam o processo de tornar a Amamentação uma realidade.

A expectativa de que Amamentar é um fenómeno natural e que ocorre de forma espontânea, sem grande ciência associada, induz, muitas vezes, as mães em erro. É esperado que ao colocar o bebé na mama ele mame de forma eficaz e instintiva. Na verdade, esta base de expectativa não está absolutamente errada. Verifica-se , felizmente, com muitas mulheres, que não  revelam dificuldades e experienciam uma amamentação prazerosa desde o verdadeiro início. No entanto, para outras tantas, este processo é marcado por múltiplos desafios como a dor nos mamilos, sensação de produção de pouco leite, mamilos com fissuras, mastites ou dificuldades relacionadas com a técnica. Sem a ajuda especializada, o suporte e apoios necessários em tempo útil a grande consequência é o desmame precoce.

No momento em que passei por esta realidade na primeira pessoa, a estratégia que encontrei para me proteger de sentimentos de frustração e insegurança, foi a de valorizar o que tinha conseguido fazer. Focar-me no tempo que tinha conseguido manter a amamentação e quase, quase normalizei o desmame precoce, focando-me no pressuposto de que tinha feito o “possível”.  Hoje sei que não fiz o possível… estive longe disso por falta de informação e de apoio profissional especializado.

Vale a pena investir numa boa preparação, vale a pena o questionamento das orientações veiculadas no meio hospitalar, vale a pena apostar no empoderamento que traz confiança e segurança no instinto de mãe mas que apenas subsiste numa base de escolha (muito) informada. Os benefícios da amamentação na saúde e bem estar do bebé e da mãe compensam definitivamente este investimento. É através da relação com a mãe que o bebé vai estabelecer o primeiro vinculo afetivo. Amamentar é tornar tangível este amor de forma líquida, quente, aconchegante e doce. E é com esta referência de primeiro amor que o bebé vai construir também as suas relações futuras. Amamentação é vinculo, é saúde, é um direito, é sustentabilidade, é economia, é empoderamento.

 

A Amamentação pode realmente trazer desafios, mas ajuda muito percebermos que há ingredientes simples que, estando presentes, nos conduzem a uma experiência mais positiva:

- Contacto próximo com o nosso bebé (idealmente Pele com Pele) ou Sling. A possibilidade de estendermos a sensação de segurança, acolhimento e conforto da vida intra-uterina aos nossos recém-nascidos numa relação de pura conexão;

- Amamentação em livre demanda. Cada bebé é único e deve ter a liberdade de escolher a hora e quantas vezes quer mamar, ao seu próprio ritmo, sem horários e sem regras;

- Autoconfiança, empoderamento e acesso a boa Informação. Quando a procura do conhecimento é o nosso principal ponto de partida, trazemos um foco de luz sobre o desconhecido e passamos, orgulhosamente, a assumir um papel mais participativo e consciente sobre as nossas escolhas.

- Apoio e Suporte especializados. Muitas vezes, a Amamentação precisa de apoio e felizmente esse apoio existe. Um/a IBCLC é o/a profissional mais especializado/a para apoiar a lactação e esta é a única profissão reconhecida internacionalmente nesta área. Há ainda o ASA - Ao Serviço da Amamentação - um projeto solidário,  criado por voluntárias com formação em amamentação que se dedicam a apoiar mulheres que amamentam ou pretendem amamentar. Há também a La Leche League, uma organização mundial educacional, baseada em voluntários cuja missão é ajudar as mães em todo o mundo a amamentar através do apoio, incentivo, informação e educação de mãe para mãe. O seu site disponibiliza muita informação útil sobre o tema.

- Descanso e Tempo. A mãe precisa de ter tempo para si. Organizar-se de forma a poder descansar quando o bebe dorme ou ocupar esse tempo dedicando-se ao que é importante para si ( autocuidado; refeições; leitura; atividade física...)

 

A capacitação das mães e das famílias para escolhas informadas e seguras na jornada da Amamentação é uma necessidade. É promoção de saúde. É evitar que a falta de conhecimento ganhe espaço num momento de fragilidade em que tudo dói, tudo é novo e o medo de falhar é enorme.

Presença, colo, toque, acolhimento e conhecimento. A receita para que possamos acolher os nossos bebés, com todo o amor e empatia que merecem. A Amamentação é a escolha natural dos nossos bebés. Respeitar esta verdade deve ser o nosso principal propósito, haja o que houver que tente desviar-nos dele.

Querer é poder e as Mães QUEREM.

 

PS – Este texto não pretende diminuir as mães que escolhem não amamentar. Sejam quais forem as suas motivações, que seja uma escolha informada, em consciência de todos os prós e contras, e estará tudo bem.

 

Sara Lourenço

fisioterapeuta

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