Sabe-se que a inatividade física e a obesidade contribuem para aproximadamente 26% do risco de desenvolver cancro colorretal, devendo-se a estes dois fatores os 159000 mortos em todo o mundo (dados de 2001) por este problema. Falando de forma mais geral, das 7 milhões de mortes que ocorram em 2001 em consequência de cancro, 2.42 milhões (cerca de 35%) foram atribuídas a fatores de risco modificáveis.
Alguns aspetos importantes sobre o que se sabe atualmente a nível de atividade física:
- Os níveis mínimos de atividade física recomendados pela Organização Mundial de Saúde, 150 minutos de atividade física moderada ou 75 minutos de atividade física vigorosa semanais, demonstram reduzir a incidência e a mortalidade por vários tipos de cancro.
- Sabe-se que a realização de 300 minutos de atividade física moderada ou 150 minutos de atividade física vigorosa (correr, saltar à corda, treino em circuito, jogar futebol, ténis, artes marciais, etc) resulta em benefícios acrescidos e maior efeito protetor, sendo que em casos de cancro colorretal, estudos epidemiológicos demonstram que a atividade física vigorosa apresenta o maior efeito protector.
- Mulheres com diagnóstico de cancro da mama (estágios I-III) que realizam mais de 9 MET h/semana de atividade física (isto é aproximadamente 2 a 3 horas por semana de caminhada - velocidade aproximada de 5 a 5.5 km/h), têm menor mortalidade e menor risco de recorrência da doença comparativamente com mulheres que são inativas.
- De forma similar, pessoas que são ativas após diagnóstico de cancro do colon têm um melhor prognóstico comparativamente com aquelas que são sedentárias (nomeadamente aquelas que realizam entre 18 a 26.9 MET·h/semana de atividade física).
- O exercício físico demonstra ser efetivo na melhoria de vários fatores psicossociais associados ao tratamento oncológico, nomeadamente melhoria na qualidade de vida, redução dos níveis de ansiedade e depressão, aumento da autoestima e redução da fadiga relacionada com o cancro (nomeadamente em casos de cancro da próstata e da mama).
- Sabe-se que o exercício de fortalecimento muscular demonstra melhorar a mobilidade em pessoas com cancro da mama que sofrem neuropatia periférica (efeito da neurotoxicidade do tratamento).
- Os mecanismos fisiológicos pelos quais a prática de atividade física ou o exercício físico demonstram um efeito protetor em termos de doença oncológica ainda não se encontram totalmente esclarecidos, mas resultam possivelmente de alterações benéficas na composição corporal e a nível hormonal, metabólico e imunológico.
Pedro Machado
Fisioterapeuta e investigador
Fontes
American Cancer Society Guidelines on Nutrition and Physical Activity for Cancer Prevention
Brown JC, Winters-Stone K, Lee A, Schmitz KH. Cancer, physical activity, and exercise. Compr Physiol. 2012;2:2775–809.
McTiernan A. Mechanisms linking physical activity with cancer. Nat Rev Cancer. 2008;8:205–11. 19.
Shaw et al. Effects of physical activity on colorectal cancer risk among family history and body mass index subgroups: a systematic review and meta-analysis BMC Cancer (2018) 18:71 DOI 10.1186/s12885-017-3970-5
Slattery ML, Edwards SL, Ma KN, Friedman GD, Potter JD. Physical activity and colon cancer: a public health perspective. Ann Epidemiol. 1997;7:137–45.
Velthuis M: The effect of physical exercise on cancer-related fatigue during cancer treatment: a meta-analysis of randomised controlled trials, Clin Oncol (R Coll Radiol) 22(3):208–221, 2010