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24 Jan 2020

Como tratar a sua lesão com o Protocolo PEACE & LOVE

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Como tratar a sua lesão com o Protocolo PEACE & LOVE

“Estava a jogar bola com os meus amigos e torci o pé! Deixei de conseguir caminhar! Fui de imediato fazer gelo e tomar um anti-inflamatório. Ainda pedi ao meu amigo umas canadianas!”.
“Tenho umas escadas no meu quintal, ia distraída, na conversa, e tropecei. Bati com o Joelho! Começou logo a inchar! Tenho feito gelo e andado de canadianas. Acha que deva tomar alguma coisa ou esfregar algum creme?”.
“Estava na brincadeira com o meu filho, mandei um sprint e senti uma picadela no músculo da perna! Desde aí que tenho sentido dores ao andar. Para aliviar faço gelo”.

Estas são algumas das histórias presentes no nosso dia a dia, que habitualmente nos levam a tomar medicação, a fazer gelo e a proteger a articulação afetada. Mas serão estas práticas, que estão tão enraizadas, as mais corretas?!

Antes de lá chegarmos, é interessante fazer uma pequena abordagem do que acontece após uma lesão, para esclarecer os nossos leitores. Desde a lesão até à recuperação total, podemos dividir a recuperação em 3 fases. A primeira fase é a INFLAMATÓRIA, que dura entre um a três dias, nos quais vão estar presentes sinais como a dor, rubor (vermelhidão), edema (inchaço) e calor. De seguida, entramos na fase PROLIFERATIVA, que dura desde o 2º ou 3º dia até três semanas, na qual as células do nosso corpo depositam tecido desorganizado e inespecífico para o início da cicatrização tecidual. Por fim, a terceira fase, a REMODELAÇÃO, que pode durar anos. O tecido depositado, na fase acima descrita, transformar-se no tecido lesado.

Ao longo deste texto, vou concentrar-me na fase inflamatória e proliferativa, pois é aqui que estará o maior pico de dor e na qual fazemos de tudo para a atenuar, principalmente a dor e o calor. Vou deixar dicas de como poderão proceder para obter uma recuperação mais rápida e eficaz.

Ao longo dos anos, a medicina tem evoluído e vários são os protocolos para controlar os sinais inflamatórios que procedem a lesão. Os protocolos são, por ordem cronológica, ICE (gelo, compressão, elevação), RICE (acrescenta o repouso ao anterior), PRICE (acrescenta a proteção ao anterior) e POLICE (vem retirar o repouso e implementar o stress mecânico da zona afetada).
Todos eles estão ultrapassados e, neste momento, o que a literatura defende é o Protocolo PEACE & LOVE, que vos irei explicar, de seguida, o significado deste acrónimo, letra por letra.

Nos primeiros dois a três dias, deveremos começar pela primeira fase do Protocolo, a fase PEACE:
P – “Proteção”: fazer descarga ou restringir o movimento da área afetada, durante um a três dias. O descanso deve ser o mínimo possível porque compromete a qualidade e a força tecidular. Devemos basear-nos sempre pela dor para prevenir o agravamento da lesão.
E – “Elevação”: do membro afetado, para promover a drenagem de fluido no tecido.
A – “Evitar” (do inglês Avoid): modalidades anti-inflamatórias. Isto porque todas as fases do ciclo de lesão, acima descritas, são muito importantes para uma melhor recuperação e ao optarmos por esta terapia estamos a condicionar o ciclo normal do nosso corpo. Neste tipo de modalidade, incluímos o gelo!
C – “Compressão” moderada, com tape ou ligadura, vai limitar a proliferação de edema e hemorragia.
E – “Educação” por parte do terapeuta para a melhor compreensão, por parte do utente, do problema das fases de recuperação e da gestão de carga que poderá pôr sobre a área afetada.

Passados os primeiros dois a três dias, deveremos avançar para a seguinte fase do protocolo, a fase LOVE:
L – “Carga” (do inglês Load): é uma abordagem ativa com movimento e exercício. A carga ótima é aquela que não exacerba os sintomas e vai promover a reparação, a remodelação e o aumento da tolerância dos tecidos.
O – “Otimismo”, porque o cérebro desempenha o papel fundamental na reabilitação. Fatores como a catastrofização, depressão e medo aumentam as barreiras para a recuperação e estão associados a um pior prognóstico.
V – “Vascularização”: o exercício cardiovascular é importantíssimo para potenciar o aumento de fluxo sanguíneo nas áreas lesadas, estando comprovado que reduz a necessidade de medicação especifica para problemas musculoesqueléticos.
E – “Exercício” irá ajudar a restaurar a mobilidade, força e proprioceção, evitando as recidivas.

Como vê, hoje, estamos muito mais à frente no tratamento da lesão. Terapias anti-inflamatórias como o gelo e a medicação, nem sempre são as mais aconselhadas, a imobilização deve ser substituída pela mobilização, para que possa voltar ao ativo o mais rapidamente possível. Claro que em todos os casos deveremos ponderar o risco/beneficio de cada ponto aqui abordado e é por isso que estarei aqui, para esclarecer-lhe quaisquer dúvidas que possam surgir ao longo deste texto.

Espero ter sido esclarecedor e que tenha percebido a importância de abandonar a terapia tradicional e optar por este novo modelo.

 

“PEACE & LOVE” para todos.

João Raimundo

Fisioterapeuta e osteopata

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