Em textos anteriores, falamos um pouco sobre o que acontece ao corpo quando se tem um AVC. Hoje queremos falar sobre as sequelas que podem aparecer, como podem mudar a vida do utente e o que pode ser feito pelo próprio e pela fisioterapia para se conseguir atenuar esse impacto.
As consequências de um AVC dependem de vários fatores: a área afetada, a extensão da lesão, a terapêutica adotada, entre outros. As possíveis sequelas de uma lesão como esta podem envolver: dificuldade no movimento num lado do corpo; alterações do tónus e da força muscular; alterações sensitivas e da percepção; alterações da fala e da deglutição; alterações comportamentais e emocionais.
Para reduzir as limitações que uma situação destas provoca, e recuperar alguns danos causados pelo AVC, é fundamental fazer o tratamento com uma equipe multidisciplinar, mesmo depois da alta hospitalar: ter o acompanhamento de um fisioterapeuta, de um terapeuta da fala e de um psicólogo, além do médico. É ainda fundamental adotar um estilo de vida saudável, já que, apesar das sequelas, há que promover a saúde o mais possível e prevenir a recidiva.
No que respeita ao processo de reabilitação há uma questão importante a considerar, que se prende com a diferença entre estar incapacitado para fazer alguma coisa naquele momento, fruto das sequelas de AVC, e ser incapaz de o fazer por desmotivação, por resignação e por achar que não há esperança. Vale a pena pensar que existe sempre capacidade para executar um conjunto de tarefas do dia a dia e que executá-las é fundamental, não só para a reabilitação, mas também para a motivação e manutenção de um propósito de vida. Cabe ao fisioterapeuta auxiliar o utente a estabelecer objetivos e fazer todo o possível por os alcançar, trabalhando a sua motivação e ajudando-o a lidar com e ultrapassar as dificuldades.
Em termos práticos, tudo o que for possível ser feito pelo próprio utente deve ser feito da forma o mais autónoma possível, como vestir e despir uma camisola, lavar os dentes, subir e descer degraus, andar do sofá até à cozinha, levantar da cama, comer sozinho, entre outros, apesar das ajudas.
No início do processo de reabilitação, é normal que grande parte destas tarefas sejam executadas pelo membro menos afetado (“o lado bom”; “o lado não doente”). Porém, à medida que a recuperação vai acontecendo, o membro mais afetado (“o lado mau”; “o lado doente”) deve ser incluído sempre, mesmo que pareça infrutífero à partida. Quanto mais uso for dado ao corpo mais se estimula o sistema neural. Quanto mais estímulo for dado ao sistema neural, mais facilmente irá recuperar o que perdeu.
Teresa Cruz
Fisioterapeuta
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