A Saúde, para nós, vive numa binariedade: ou a temos, ou não a temos. Quando alguém sofre um AVC, assume, muitas vezes, que estará “doente” para sempre, uma vez que sente ter perdido a sua saúde, o seu bem-estar, a sua capacidade de viver a sua vida como vivia antes da lesão. É ainda capaz de pensar que já atingiu o seu potencial máximo de recuperação nos primeiros meses pós-lesão, uma vez que os ganhos são tão pequenos e estão longe da sua expetativa que, algumas vezes, desiste da fisioterapia e da sua recuperação. Todos estes paradigmas são alimentados por esta noção que a saúde existe ou não existe, não há espaço para um intermédio e não há espaço para uma nova ideia de saúde, de capacidade e de bem-estar.
Para quem trabalha nesta área torna-se fulcral desconstruir este paradigma, não só por enfraquecer a motivação do utente, como também por não permitir ter um olhar mais abrangente da saúde. Quer isto dizer que é importante passar a ideia que a saúde não se tem, mas constrói-se, quer numa situação “normal” quer numa situação de incapacidade.
Se partirmos desta premissa, então é da responsabilidade do utente (e dos seus profissionais de saúde) construir e cuidar da sua saúde desde o seu ponto de partida - por exemplo, numa situação pós-AVC - até ao seu ponto de chegada, que será uma sensação de bem-estar e de capacidade ótimos para viver a sua vida consoante os seus ideais.
Para isso necessitamos de abordar a cronicidade de uma doença como o AVC também como uma construção e um cuidado constantes, pois no que se refere ao Sistema Nervoso a lei que mais impera nestes casos é a chamada “lei do desuso”. Ou seja, se não usar certas capacidades que já consegui ganhar no início da minha recuperação, o meu cérebro irá assumir que não é necessário e, por isso, não fica memorizado e automático, é perdido. O cérebro só memoriza o que é essencial para o funcionamento do nosso corpo, e para que este se relacione com o mundo exterior. Se para mim, é essencial andar, então, terei de andar muitas horas para que fique de novo “na minha memória”.
Em suma, a cronicidade de qualquer doença é inevitável, incluindo um AVC. O que é evitável é a extensão e a evolução da minha incapacidade na cronicidade da minha doença. Umas das formas de evitar isso mesmo é ir expondo o meu sistema nervoso e o meu corpo a novas experiências e a novas abordagens ao meio ambiente, nomeadamente através da Fisioterapia Neurológica que conhece todas estas particularidades e formas de estimular o cérebro.
Teresa Cruz
Fisioterapeuta