O Lipedema é uma condição vascular crónica e progressiva responsável por um aumento desproporcional de gordura ao nível dos membros inferiores, principalmente pernas, quadris e tornozelos, provocando dor na região afetada. Embora ainda não seja identificada uma causa, acredita-se que pode estar relacionada com alterações metabólicas, hormonais ou inflamatórias. O quadro apresenta influência hereditária e atinge principalmente mulheres em idade reprodutiva.
Pessoas com lipedema normalmente apresentam uma morfologia caracterizada por tronco “fino”, com aumento de gordura abaixo da cintura, sem atingir os pés. É uma condição muitas vezes confundida com o linfedema, no entanto são patologias distintas. O linfedema é caracterizado por um aumento da circunferência da perna por acumulação de líquidos e compromete todo o membro (na maioria das vezes de forma unilateral), incluindo o pé.
Os sintomas do lipedema podem incluir desconforto, cansaço, hematomas frequentes, edemas (inchaço) e dor nas pernas e outras regiões afetadas. No entanto, a queixa mais recorrente é o desconforto estético, que inibem as pacientes de usar roupas com maior exposição das pernas. Pacientes com lipedema estão mais suscetíveis a lesões das articulações e, em casos mais graves, podem manifestar dificuldades na atividade de marcha e consequente atrofia muscular.
Existem 4 estádios que caracterizam o lipedema e variam de acordo com o aumento da gordura acumulada, aumento de dor, desconforto e alterações na pele. Quando não controlada esta condição pode comprometer o sistema linfático.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico do lipedema é predominantemente clínico. Sendo uma condição crónica o lipedema não tem cura, mas o tratamento conservador tem como objetivos o alívio da sintomatologia e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Na abordagem a esta condição clínica há uma enorme vantagem em procurar uma resposta multidisciplinar no âmbito da cirurgia vascular, fisioterapia, nutrição, atividade física e psicologia. Manter o controle do peso, ter uma alimentação equilibrada, realizar atividade física com recurso a exercícios aeróbios e de musculação. O acompanhamento psicológico é também importante na aceitação do biotipo quando este não limita a vida diária e na construção de estratégias de coping para gerir melhor a condição. A Fisioterapia intervém com a aplicação de técnicas de drenagem linfática manual, fazendo também recurso à Pressoterapia com efeitos satisfatórios quando usada em conjunto com as técnicas manuais.
Em alguns casos, pode ser recomendado o uso de meias de compressão que devem ser prescritas pela equipa médica. As meias geralmente usadas para o tratamento de edemas de membros inferiores (em doenças venosas não avançadas, por exemplo) são meias com malhas circulares. Em pacientes com lipedema, o uso recomendado, aliado ao acompanhamento médico, é o de meias elásticas com baixo estiramento (menor elasticidade), obtidas quando o material da fabricação é a malha plana. É um tipo de tecido menos extensível, mais robusto, confortável e se adapta melhor ao formato do membro afetado.
A abordagem cirúrgica – lipoaspiração - é reservada aos casos mais graves, em que a mudança dos hábitos, o auto cuidado e o tratamento conservador não foram satisfatórios.
Se tem dúvidas sobre se apresenta esta condição deve procurar a avaliação de um profissional qualificado. Só assim poderá ser orientado na prescrição do tratamento adequado para a gestão dos sintomas e o respetivo encaminhamento para a restante equipa multidisciplinar. A avaliação pode ser realizada por um Fisioterapeuta.
O lipedema é ainda uma condição pouco abordada, desvalorizada e muitas vezes mal diagnosticada. Cabe a nós, profissionais da saúde, facilitar a literacia sobre o tema e um olhar atento ao diagnóstico, mas, sobretudo, uma condução empática da dor emocional de cada paciente, na relação com uma doença que pode ser controlada mas que não apresenta cura definitiva.
Sara Lourenço
Fisioterapeuta
