Sair de uma para nos metermos noutra? Não, obrigado. Não me parece boa ideia. Não me parece que seja essa a lição necessária neste mundo que vivia a mil à hora.
Vivíamos num mundo de frenesim, onde tudo acontecia a uma velocidade alucinante. Agora, parece que fomos do 80 para o 8. Será que é mesmo assim ou estamos só a alterar as rotinas e o foco e a manter-nos com a mesma tendência para ir para o 80?
De 2 horas por dia ao telemóvel passei para 5. De algumas atividades no computador, passei para mil. Chego a estar 2 horas a responder a mensagens, sem ainda ter chegado ao email. Chego ao final do dia e parece que não tive tempo para fazer tudo o que precisava. E isto para não falar no tempo que queria e devia estar com os meus meninos… E não estou porque o trabalho assim o exige, apesar de estarem mesmo aqui ao lado, em casa. Deveria ter estado com eles a apoiar nos trabalhos da escola, mas não consegui.
Onde está a paragem? Estaremos mesmo a aproveitar a oportunidade para o mergulho e crescimento interior? Estaremos a dedicar-nos ao essencial, ou a distrair-nos e perder esta preciosa oportunidade? Onde está a minha atenção?
Sim a crise pode servir para aprendermos, para percebermos o que é mais importante, daquilo que mais sentimos falta. O supérfluo, aquilo que nos consumia tempo e não nos preenchia, pode ficar para o segundo plano.
É tempo de parar, refletir e reorganizar.
O Dr. Daniel Siegel, professor clínico de psiquiatria, deixou-nos uma sugestão para alimentarmos a nossa mente de forma saudável, com os ingredientes necessários e a quantidade adequada: o “Prato da Mente Saudável”. Sugere-nos que a cada dia tenhamos um tempo de foco, no qual nos dediquemos a atividades que impliquem concentração na tarefa de maneira orientada para atingir um objetivo, como o trabalho por exemplo. Que tenhamos um tempo para nos conectarmos, para nos relacionarmos com os amigos e família. Que tenhamos um tempo para brincarmos, permitido-nos ser espontâneos ou criativos, desfrutando em pleno das experiências. Que tenhamos um tempo de introspecção, no qual nos devemos escutar no silêncio, nos sentirmos, prestarmos atenção à nossa experiência ou mesmo para nos dedicarmos a escrever sobre aquilo que estamos a viver ou pelo qual estamos gratos. Que tenhamos tempo para a atividade física, tão essencial ao nosso bem-estar físico, como mental. Que tenhamos tempo para fazer “nada de especial”, como não estarmos focados, não termos objetivos, apenas com o propósito de descansar, relaxar. E que tenhamos tempo para dormir. Tempo essencial para a nossa saúde e bem-estar.
Sim, parece difícil ter tempo a cada dia para tudo isto. Sim, podemos voltar ao frenesim do mundo que já lá vai e não aproveitar para reorganizar e nos centrarmos naquilo que é efetivamente essencial. Porém, seria um desperdício tão grande não aproveitar esta “oportunidade”.
Marco Clemente
Fisioterapeuta e osteopata