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28 Feb 2022

"Viver com uma doença neuromuscular é um desafio"

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"Viver com uma doença neuromuscular é um desafio"

Um dos nossos pacientes da Physioclem Leiria partilha como é viver com uma doença neuromuscular. "Desafio" é a palavra escolhida pelo Tiago, um jovem médico, para descrever o seu dia a dia. Uma entrevista na qual responde aos desafios pessoais, profissionais e à importância da fisioterapia: "além de aumentar o meu bem-estar mental e melhorar a resistência ao esforço, vai fomentando estratégias no meu corpo que ajudam a compensar algumas das minhas limitações físicas". O paciente está ao cuidado da nossa fisioterapeuta Adriana Ribeiro.

 

Como é ser médico e viver com uma doença neuromuscular?

Ser médico e viver com uma doença neuromuscular é um desafio. Praticar medicina implica sempre uma componente prática, que, por vezes, exige esforço físico. Por consequente, encontro algumas limitações, nomeadamente, na realização de parte do exame objetivo, na componente cirúrgica e na assistência à emergência médica. Por outro lado, sinto-me capaz e realizado todos os dias na aprendizagem teórica da Medicina e na relação com o outro, que, para mim, são das vertentes mais importantes. Considerando tudo, não sinto que a minha incapacidade física me impeça de ser um bom médico e cumprir com os meus deveres. Exceptuando a impossibilidade de poder optar por uma especialidade cirúrgica, consigo adaptar-me, por exemplo tendo sítios onde me sentar ou pedindo ajuda a colegas quando apercebo-me que as minhas limitações podem comprometer a boa prática.

 

Quais as maiores dificuldades que encontra no seu dia a dia devido à sua doença?

No meu dia a dia, a maior dificuldade que encontro é, sem dúvida, subir escadas, e nesse aspeto o nosso país ainda não oferece boas acessibilidades. No que toca à habitação, mesmo existindo elevador, é comum encontrar degraus no acesso ao prédio ou rampas demasiado íngremes. A minha tolerância ao esforço físico está diminuída, o que condiciona a forma como vivo o meu dia a dia, na medida em que não posso caminhar longas distâncias. 

 

Como lida psicologicamente com a sua doença?

Psicologicamente, atravessei uma fase difícil, entre os meus 20 e 23 anos, anos seguintes a uma cirurgia que corrigiu a minha postura, mas dificultou a minha marcha, razão pela qual deambulo com recurso a uma canadiana. Foi um processo de luto e negociação prolongado, mas que consegui resolver sozinho. Olhando para trás, a psicoterapia teria sido uma boa ajuda. Uma vez que a minha doença é lentamente progressiva, no meu dia a dia acabo por lidar bem psicologicamente porque à medida que novos desafios vão surgindo, tenho tempo para o processo de aceitação e adaptação. 

 

Que importância tem a fisioterapia na sua vida?

A fisioterapia, quando não levada ao extremo, além de aumentar o meu bem-estar mental e melhorar a resistência ao esforço, vai fomentando estratégias no meu corpo que ajudam a compensar algumas das minhas limitações físicas. Se ficar um período significativo sem fazer, noto diferenças. Algo que aconteceu durante a pandemia da Covid-19.

 

Como foi a sua experiência com a fisioterapia na Physioclem?

Na Physioclem, encontrei uma fisioterapeuta com experiência e conhecimento na área das doenças neuromusculares. Houve sempre sensibilidade na gestão das minhas ambições e expetativas, sem falsas esperanças no traçar de objetivos e na gestão da minha fadiga. Apesar de fazer fisioterapia há 10 anos, na Physioclem, pela primeira vez foram realizadas avaliações regulares com recurso a testes funcionais, o que me deu maior noção do meu progresso. Ao obter provas do impacto positivo da fisioterapia, senti-me mais motivado para continuar a fazer fisioterapia.

 

Que diferenças encontrou no Tiago quando ele realizou fisioterapia? Que melhorias sentiu?

Quando o Tiago iniciou fisioterapia na clínica tinha estado um longo período sem realizar fisioterapia. Encontrava-se a preparar-se para a Prova Nacional de Acesso à Especialidade Médica, estava desmotivado em relação aos benefícios que a fisioterapia lhe poderia trazer, principalmente pelo tempo que teria de investir. Com alguma insistência, lá deu uma oportunidade que compensou bastante.  Mesmo em dias que se estivesse a sentir cansado ou mais desmotivado, era notório que no fim de cada sessão tinha um maior bem-estar geral. Progressivamente, foi melhorando a resistência à atividade física, o que se traduziu numa maior autoconfiança em momentos de lazer fora de casa. Também notei uma melhoria a nível de saúde mental, começou a estar mais otimista em relação ao futuro.

 

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